Erlon administra cerca de 415 funcionários que se dividem em 12 departamentos da Fábrica de Cenários. Adereços, pintura, arte, iluminação, cores, marcenaria, serralheria… Tudo isso e mais um pouco precisa andar de mãos dadas para fazer a engenhoca funcionar.
Antes de mergulhar no mundo mágico da criação, a reportagem do R7 quis entender como funciona o passo a passo para a confecção de um cenário. Pense, por exemplo, em Rebelde e o colégio Elite Way. Para Erlon e seu grande time montarem as salas de aula, cantina, quartos, sala de estar etc, foi preciso, primeiramente, uma locação. Erlon explicou e deu mais um exemplo.
— Com o navio de Máscaras, por exemplo, primeiro nós fomos até o navio, tiramos fotos dos detalhes da parte interna e externa para ver como é o acabamento. A cenografia criou o desenho, tirou referências de piso, paredes, detalhes que existiam neste navio. O semelhante acontece quando o cenário é uma casa também. Não conseguimos montar um cenário real sem uma locação, porque a parte externa é que vai gerar as portas e janelas desse cenário.
Por uma questão de demanda e logística, a “parte grossa” dos cenários é feita por empreiteiras parceiras. Assim que esse produto chega às mãos da equipe de Erlon ele ganha vida com adereços e acessórios.
— Nós cuidamos do adereçamento, que é a parte de arte. Quando um cenário está pronto, montado, adereçado, com móveis, cores, cortinas, tudo no lugar, o diretor da novela confere para aprovar. A partir daí, o cenário entra em continuidade. O cenário fica em nossas mãos e a fábrica assume até o fim da novela. Aqui nós teremos as referências de cor, móveis, piso… Tudo isso precisa ter um seguimento exato até o final da novela.

Confira abaixo a entrevista com Erlon.
R7 — Você disse que precisa de uma locação para começar o projeto de um cenário. Mas e quando, por exemplo, não é exibida a parte externa de um apartamento na novela? A parte interna é totalmente produto da criação?
Erlon Lange — Sim, mas essa criação vem junto com o diretor-executivo da novela. Ele define os acabamentos que ele quer, os detalhes do personagem. Nós nos baseamos muito também pela sinopse. Ela indica se o personagem é rico, se gosta de luxo, se não gosta… Já temos o perfil da pessoa por aí.
R7 — Muita gente não sabe qual é a função do contrarregra. Você pode explicar?
Erlon Lange — A partir do momento em que o cenário ganha o ok da direção, nós tiramos fotos de todos os detalhes. Posição dos quadros, cortinas, sofás, acessórios, piso, parede… A contrarregragem monta um álbum para a continuidade. Quando o cenário precisa ser montado de novo, ele pega a foto correspondente e segue os detalhes. Isso evita o famoso erro de continuidade.
R7 — Vocês precisam sempre trabalhar em conjunto, não é…
Erlon Lange — Sim. Você percebe que é uma engrenagem? Se um dente falhar, atrapalha todo mundo.
R7 — E fazer as minisséries bíblicas é mais complexo?
Erlon Lange — Sim, bastante. Porque envolve pesquisadores, historiadores. A novela normal você usa o cenógrafo como designer que decora uma casa. Na trama de época, só o historiador vai dizer como eram os acessórios usados para comer, por exemplo. Esses detalhes são todos criados aqui na fábrica.
R7 — Para montar os cenários das minisséries bíblicas, vocês usam algum tipo de material diferente?
Erlon Lange — Usamos cores diferentes, materiais para “envelhecer” o cenário. Para José, que se passa no Egito, eles usavam técnicas diferentes. A palha era muito usada com barro. Nós vamos seguir isso para confeccionar os tijolos.
R7 — Com quanto tempo de antecedência vocês começam a pré-produção de uma trama?
Erlon Lange — Olha, José, por exemplo, nós já começamos em abril. Quando é uma produção de época, nós começamos com mais antecedência. A confecção dos cenários deve ter início com sete meses antes da estreia.
R7 — Você tem como calcular um prazo de confecção, adereçamento e entrega para ter um cenário pronto?
Erlon Lange — Nós trabalhamos sempre com prazos pré-estabelecidos. O tempo depende muito do tamanho do cenário. Mas todos os dias nós temos uma grade de montagem. Os departamentos de produção marcam as datas de cada personagem. Com a data na mão, nós pedimos a liberação do estúdio para montar o cenário correspondente.
R7 — Então todos os dias os cenários são montados e desmontados?
Erlon Lange — Todos os dias. Nós nos baseamos pelos roteiros para montar nossa grade. Se o estúdio vai ser usado até tarde, a montagem é feita durante a madrugada. De manhãzinha, o contrarregra chega, coloca os adereços no lugar, e 10h entra a luz, e eu entrego para a equipe técnica.
R7 — Voltando para o adereçamento, os móveis de tramas acabadas são reaproveitados/restaurados?
Erlon Lange — Sim, nós trocamos a estrutura, o tecido, as cores… Até a estrutura dos cenários são reaproveitadas. É uma economia bem grande. Cenários da cidade cenográfica, por exemplo, custam cerca de R$ 2,5 milhões, R$ 3 milhões. É um investimento grande e nós reciclamos muito.
R7 — Sobre os profissionais, não precisamos nem falar que são todos top de linha…
Erlon Lange — Claro. Costumo dizer que aqui nós não administramos trabalho, porque eu sei que eles vão fazer. Nós administramos pessoas, a rotina de materiais, o que chega, o que sai… É uma grande honra trabalhar aqui porque a gente vê que eles realmente são profissionais. Muitos trabalharam no Carnaval, em barracões, fazem fibras, esculturas. Todos eles são verdadeiros artistas plásticos.
